Cirurgias e Procedimentos
Lentes de Contato
A córnea
A córnea é a estrutura mais importante do olho humano em relação à refração dos raios luminosos que incidem constantemente na superfície ocular. Para a correta refração da luz, assim como ocorre em uma lente de óculos, a córnea necessita obedecer a dois princípios: transparência e curvatura adequada.
Olhos normais
Em olhos normais, cuja transparência corneana e curvatura estão dentro dos limites esperados, a adaptação de lentes de contato pode ser feita através de um teste de adaptação com relativo sucesso.
Lentes gelatinosas
As lentes gelatinosas apresentam a grande vantagem de oferecer alto nível de conforto ao paciente e são ideais para alguns tipos de esporte. Como desvantagens, elas não alteram a curvatura refrativa (oferecem qualidade de visão inferior à das rígidas), tem maiores índices de alergia e infecção (especialmente em situações que envolvem proximidade com água, como natação) e tem menor transmissão de oxigênio que as lentes rígidas.
Lentes rígidas
As lentes rígidas têm como desvantagem uma adaptação mais complexa que requer um teste de adaptação minucioso e realizado por um profissional que tenha experiência no ramo. Uma boa adaptação leva em conta o diâmetro da lente, a sua curvatura, a sua transmissibilidade de oxigênio, sua altura sagital e desenho de bordas e de zona óptica. Muitas vezes, um teste de adaptação feito às pressas pode resultar em uma má adaptação. Os inúmeros modelos de lentes de lente rígida exigem paciência e dedicação do médico oftalmologista e do paciente para que consigam um resultado satisfatório, o que é possível na maioria dos casos. As lentes rígidas têm menores índices de alergia e infecção, oferecem qualidade óptica incomparável e permitem taxas altíssimas de transmissão de oxigênio.
Lentes rígidas para casos especiais (transplante de córnea, ceratocone...)
Algumas lentes rígidas são desenhadas para oferecer uma adaptação em casos em que a adaptação com lentes rígidas habituais não é possível. Existem lentes projetadas para “encaixar” em superfícies específicas, como ceratocone (inclusive para alguns casos avançados), aplanamento após ceratotomia radial (RK, a cirurgia com diamante realizada para tratar miopia antigamente) ou após transplante de córnea (casos com astigmatismo alto ou irregular).
Transmissibilidade de oxigênio (DK)
As lentes precisam ter boa transmissibilidade de oxigênio (o que depende essencialmente do tipo de lente – rígida ou gelatinosa - e de seu material) para que as células do endotélio (a bomba hidráulica da córnea, o “coração da córnea”) não sofram importantes alterações.
Mobilidade
Além disso, as lentes precisam de mobilidade, para que a lágrima transite por baixo da lente, mantendo a superfície ocular hidratada e protegida. Lentes muito apertadas e sem mobilidade podem causar alterações importantes, como baixo aporte de oxigênio (hipóxia). Lentes muito frouxas podem cair do olho durante o piscar ou causar sensação de corpo estranho constante.
Distúrbios de transparência
Quando não há transparência a solução pode ser o transplante de córnea. Isto pode acontecer, por exemplo, após cicatrizes decorrentes de trauma ou infecção ou casos de edema de córnea, como na distrofia endotelial de Fuchs ou ceratopatia bolhosa.
Distúrbios de curvatura
Mas há casos em que apesar de boa transparência, a curvatura corneana está fortemente alterada. Abaixo seguem alguns exemplos de córneas com curvaturas alteradas:
- Ceratocone (ou outras ectasias primárias menos prevalentes, como a Degeneração Marginal Pelucida ou o Ceratoglobo)
- Ceratotomia radial (incisões realizadas com bisturi de diamante, antes do desenvolvimento do excimer laser, para correção refrativa)
- Ectasias pós cirurgia refrativa (pós LASIK ou PRK)
- Transplantes de córnea (especialmente os transplantes de longa data podem apresentar importantes alterações de curvatura)
Para os casos acima, a adaptação de lentes de contato pode ser um grande desafio. Apenas as lentes rígidas conseguem restabelecer uma superfície opticamente adequada, isto é, com uma curvatura mais regular. As lentes gelatinosas, apesar de muito confortáveis, não conseguem atingir este mesmo resultado.
Disfunção lacrimal (olho seco)
A adaptação de lentes esclerais também vem possibilitando reabilitação visual em casos de disfunção lacrimal grave em doenças com severos danos à superfície ocular, como em pacientes com a síndrome de Stevens-Johnson, doença do enxerto versus hospedeiro (GVHD) ou pênfigo ocular. Nestes pacientes o ambiente permanentemente preenchido por líquido entre a superfície da córnea e a lente escleral, proporciona em alguns casos melhora dos sintomas, diminuição da frequência da instilação das lágrimas artificiais e melhora da visão.
Lentes esclerais
Até pouco tempo atrás, os pacientes que não conseguiam adaptação com as lentes rígidas não tinham outra opção a não ser considerar a cirurgia (como implante de anéis estromais ou transplante de córnea). As lentes esclerais estão há poucos anos no país. Diferentemente de uma adaptação convencional, uma camada de líquido é represada entre a lente e a córnea. Por isso, o oftalmologista deve garantir alguns parâmetros de segurança durante o teste de adaptação para assegurar uma adequada oxigenação e nutrição corneana.
Quando o oftalmologista consegue realizar uma boa adaptação, estas lentes conseguem aliar boa visão (geralmente proporcionada pelas lentes rígidas) e conforto (geralmente proporcionado pelas lentes gelatinosas).
Os lados negativos deste tipo de lentes são o custo elevado e uma adaptação mais difícil no início, especialmente na colocação e retirada.
Lentes estéticas
Para alguns casos, em olhos que perderam a capacidade de enxergar e apresentam grande alteração em sua aparência (geralmente esbranquiçados devido à uma córnea com cicatrizes e sem função), lentes de contato estéticas podem ser adaptadas. Estas lentes são produzidas com base no outro olho do paciente, seguindo os mesmos tons de cor e diâmetro, oferecendo um resultado estético satisfatório na maioria dos casos. Os riscos (infecção, por exemplo) devem ser pesados entre médico e paciente para uma adaptação segura.